“Histórias Silenciosas” – Como os jogos usam o cenário para contar histórias?

 Jogos são uma excelente forma de contar histórias. Contudo, nem sempre é preciso uma cutscene ou diálogos longos e explicativos para contá-las. Muitas vezes, são os cenários e detalhes visuais que narram e guiam a história.

 O exemplo perfeito é o jogo Inside, que aliás, foi o que me inspirou a escrever este artigo.

Inside - "Uma poesia silenciosa"

Imagem: © Playdead / Inside

 Inside é um jogo de plataforma e puzzle, desenvolvido pela Playdead, onde controlamos um menino num mundo sombrio e caótico.

 Sem um tutorial, diálogos, ou algum tipo de contexto para o que está a acontecer, os cenários e os detalhes visuais são a forma como a história é narrada.

 Desde o princípio, percebemos de que algo não está certo. Somos perseguidos por figuras misteriosas, encontramos cidades vigiadas constantemente, filas de pessoas a marchar de forma mecânica. Acabamos por questionar se alguém é realmente livre ali, e, à medida que avançamos, mais perguntas surgem.

 Florestas, campos, fábricas e laboratórios, os cenários tornam-se cada vez mais claustrofóbicos e perturbadores, revelando uma sociedade desumana controlada para servir um propósito desconhecido.

Imagem: © Playdead / Inside

 Os detalhes visuais também orientam o jogador na sua gameplay, por exemplo, usando a luz como guia. O jogo usa uma paleta de cores com tons mais escuros. Naturalmente, o jogador é atraído para zonas subtilmente mais iluminadas.

 Além disso, também usa objetos destacados em tons amarelados ou avermelhados, que sugerem interação ou perigo.

Imagem: © Playdead / Inside
Imagem: © Playdead / Inside

 O facto de não existir uma verdade clara para a história de Inside, abre espaço para interpretações, dando a cada jogador a liberdade de viver e refletir esta experiência à sua maneira.

 Esta, é sem dúvida uma forma inteligente e única de contar e guiar uma história, o que torna Inside um jogo marcante e envolvente.

Shadow of the Colossus - "Um vazio cheio de significado"

  Além de guiar e contar uma história, os cenários dos jogos, também refletem a emoção e o significado dela.

 O exemplo perfeito para isso é Shadow of the Colossus.

 Lançado originalmente para a PlayStation2 e posteriormente remasterizado para a PlayStation4, Shadow of the Colossus é um jogo de ação e aventura, onde controlamos Wander, um rapaz que tem como objetivo trazer a jovem Mono de volta à vida. Para isso terá de enfrentar 16 criaturas colossais, na chamada “Terra Proibida”, um mundo vasto e isolado da civilização.

“Shadow of the Colossus” - por @lindgren.josephine, licenciada sob CC BY-SA 4.0

 Sem inimigos menores ou NPCs, o mundo é vazio, solitário e cheio de mistérios. Ruínas de uma civilização antiga, templos antigos, vastas planícies. São cenários que parecem fazer parte de um grande quebra-cabeças, fazem-nos perguntar: “Quem viveu aqui?”, “O que aconteceu?“, “Porquê é que esta região foi proibida?”.

“Shadow of the Colossus” - por @gaylord.marcia, licenciada sob CC BY-SA 4.0

 No entanto, esse vazio e mistério não são por acaso.

 O cenário faz-nos sentir sozinhos, perdidos numa longa jornada à procura de respostas, e isso reflete a solidão e o peso da responsabilidade do Wander.

 Enquanto caminha em direção ao próximo Colosso, por entre a imensidão do cenário, um silêncio toma conta do ambiente, fazendo-nos refletir as ações do protagonista.

 Desta forma, o estado emocional do Wander é refletido no jogador através do cenário e ambientação.

“Shadow of the Colossus” - por @aglae.connelly, licenciada sob CC BY-SA 4.0
“Shadow of the Colossus” - por @haag.webster, licenciada sob CC BY-SA 4.0

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Jordão Alves

Jogar é o meu hobby. Gosto de partilhar com outros as experiências que tive neste mundo dos jogos. 

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