Jogos são uma excelente forma de contar histórias. Contudo, nem sempre é preciso uma cutscene ou diálogos longos e explicativos para contá-las. Muitas vezes, são os cenários e detalhes visuais que narram e guiam a história.
O exemplo perfeito é o jogo Inside, que aliás, foi o que me inspirou a escrever este artigo.
Inside - "Uma poesia silenciosa"
Inside é um jogo de plataforma e puzzle, desenvolvido pela Playdead, onde controlamos um menino num mundo sombrio e caótico.
Sem um tutorial, diálogos, ou algum tipo de contexto para o que está a acontecer, os cenários e os detalhes visuais são a forma como a história é narrada.
Desde o princípio, percebemos de que algo não está certo. Somos perseguidos por figuras misteriosas, encontramos cidades vigiadas constantemente, filas de pessoas a marchar de forma mecânica. Acabamos por questionar se alguém é realmente livre ali, e, à medida que avançamos, mais perguntas surgem.
Florestas, campos, fábricas e laboratórios, os cenários tornam-se cada vez mais claustrofóbicos e perturbadores, revelando uma sociedade desumana controlada para servir um propósito desconhecido.
Os detalhes visuais também orientam o jogador na sua gameplay, por exemplo, usando a luz como guia. O jogo usa uma paleta de cores com tons mais escuros. Naturalmente, o jogador é atraído para zonas subtilmente mais iluminadas.
Além disso, também usa objetos destacados em tons amarelados ou avermelhados, que sugerem interação ou perigo.
O facto de não existir uma verdade clara para a história de Inside, abre espaço para interpretações, dando a cada jogador a liberdade de viver e refletir esta experiência à sua maneira.
Esta, é sem dúvida uma forma inteligente e única de contar e guiar uma história, o que torna Inside um jogo marcante e envolvente.
Shadow of the Colossus - "Um vazio cheio de significado"
Além de guiar e contar uma história, os cenários dos jogos, também refletem a emoção e o significado dela.
O exemplo perfeito para isso é Shadow of the Colossus.
Lançado originalmente para a PlayStation2 e posteriormente remasterizado para a PlayStation4, Shadow of the Colossus é um jogo de ação e aventura, onde controlamos Wander, um rapaz que tem como objetivo trazer a jovem Mono de volta à vida. Para isso terá de enfrentar 16 criaturas colossais, na chamada “Terra Proibida”, um mundo vasto e isolado da civilização.
Sem inimigos menores ou NPCs, o mundo é vazio, solitário e cheio de mistérios. Ruínas de uma civilização antiga, templos antigos, vastas planícies. São cenários que parecem fazer parte de um grande quebra-cabeças, fazem-nos perguntar: “Quem viveu aqui?”, “O que aconteceu?“, “Porquê é que esta região foi proibida?”.
No entanto, esse vazio e mistério não são por acaso.
O cenário faz-nos sentir sozinhos, perdidos numa longa jornada à procura de respostas, e isso reflete a solidão e o peso da responsabilidade do Wander.
Enquanto caminha em direção ao próximo Colosso, por entre a imensidão do cenário, um silêncio toma conta do ambiente, fazendo-nos refletir as ações do protagonista.
Desta forma, o estado emocional do Wander é refletido no jogador através do cenário e ambientação.


